Pesquisas que registram o tamanho de torcidas são frequentemente publicadas em grandes veículos, fazendo sucesso junto aos torcedores. Diante da pesquisa O GLOBO/Ipec, é preciso ressaltar que a abordagem etnográfica dos grupos identificados com cada clube é relevante. Porém, é importante lembrar que esses números só têm real sentido econômico depois que respondermos à pergunta: qual é o tamanho do futebol brasileiro?
Para dimensionarmos o impacto que as torcidas têm em geração de receita, precisamos saber quantos brasileiros gostam de futebol em 2022. Nos falta uma análise completa de setor. Dentro dela, quantos assistem e consomem futebol?
Futebol é uma paixão nacional, mas não uma unanimidade. E precisamos calcular essa diferença pra mensurar os impactos econômicos gerados por cada torcida. É claro que pesquisas não são culpadas pelas conclusões equivocadas a que chega quem as interpreta de maneira rasa. E muito menos pela forma irresponsável com que se projetam resultados fantasiosos para grandes clubes a partir da confusão gerada.
Porém, é importante chamar a atenção para aprofundarmos o entendimento sobre o produto futebol.
Como dito, do percentual de pessoas que gosta do esporte, quantas de fato o consomem? E o fazem de maneira direta, com compra de produtos e assinaturas de serviços, ou apenas passiva?
Quantos têm conta em banco? Quantos estão negativados? Afinal, a economia do futebol ainda gira em torno da formalidade. Os brasileiros que estejam à margem dela terão um potencial menor de serem transformados em receita pelo mercado.
Há dois anos, escrevi no livro “Inovação é o novo marketing” que nenhum clube brasileiro tem um milhão de fãs, em um esforço semântico de diferenciar quem pode ser considerado torcedor e quem pode, de fato, influenciar o mercado com seu consumo. O futebol se encaminha, como todos os outros setores do entretenimento, para um consumo mais nichado e menos massificado.
Projetar o impacto do futebol apenas por pesquisas de tamanho das torcidas terá mais relevância se corrigirmos o cenário de pouca informação contextual do produto. Na discussão sobre a liga de clubes, é comum ouvirmos que é necessário cuidar do produto primeiro. É assim nas principais ligas do mundo. Da mesma forma, precisamos produzir mais informação e discutir mais o produto para entendermos melhor os clubes depois.